A Paixão e a Sina de Mateus e Catirina





A SINA E A PAIXÃO DE ARCOVERDE É SER CALEIDOSCÓPIO CULTURAL.


Concluídas as apresentações do espetáculo “Quadrilha – um romance sertanejo” parte do elenco, principalmente os residentes no Bairro da boa Vista, em Arcoverde, ficou sem opção para a continuidade da função teatral. O que fazer agora foi a pergunta conseqüente. Everaldo Marques e William di Castilho, remanescentes, não tiveram nenhuma dúvida. Criaram o seu próprio grupo de teatro, em 2003 e começaram uma oficina de pernas-de-pau com os meninos da comunidade. Sem recursos iniciaram uma trajetória marcada pela realização de recreações, festas, esquetes e campanhas nas áreas de saúde, ação social e lazer.

Garimpeiros agregaram novos participantes e saíram pescando todos os espaços possíveis na busca de alternativas para não parar, fazendo cursos e oficinas, palestras e seminários e principalmente, participando do Projeto Dramaturgia – Leituras em Cena, realizado pelo SESC. .

Em 2006 retorna para a cidade o diretor teatral Romualdo Freitas, que além de Quadrilha, dirigiu Flicts - a cor, Mauser a vã matança, Escurial, dentre outros, espetáculos que marcaram a História do Teatro de Arcoverde. Acendeu-se a luz no fim do túnel e o convite foi de prontidão: - você quer dirigir um espetáculo para nós, os da Tropa do Balaco Baco? O sim foi iminente. E deu-se, a partir daí o início de uma nova trajetória para os meninos da periferia da cidade. Projetos foram elaborados para o Ministério da Cultura e para o Governo do Estado. Pois não é que foram aprovados?

O desejo dos meninos somados aos desejos de Romualdo no seu retorno à Arcoverde, associados a uma parceria com a Etearc – Equipe Teatral de Arcoverde fez brotar este que é o mais novo espetáculo da cidade, A Paixão e a Sina de Mateus e Catirina.

Arcoverde assevera a sua marca de forte estimuladora da arte de Pernambuco mostrando um novo trabalho que se soma aos recentes Cegonha Boa de Bico, Federika, Cordel do Fogo Encantado, Coco Raízes de Arcoverde, Tonino Arcoverde, Paulinho Leite, Cacau Arcoverde (Jaraguá Mulungu), dentre tantos outros Artistas que compõem o caleidoscópio que é o Movimento Artístico de Arcoverde.

Salve, pois, o desejo daqueles meninos que teimaram em continuar dizendo coisas através do teatro. Salve a Tropa do Balaco Baco, porque ninguém vive só e é bom viver em Tropa.


José Manoel
Ator, diretor e professor de teatro, Coordenador de Cultura do SESC
Pernambuco. 2007.



FOTO: LUÍS FELIPE BOTELHO - JGE/2008
                                 
UM BOI QUE VEM DO SERTÃO
O Boi, por conta de nomes como o de Luis Preto e Lula Calixto, é parte do patrimônio do povo de Arcoverde em todas as suas infâncias. Festejado, esquecido, homenageado, transfigurado, rotulado, e às vezes até abandonado. Mas nunca morto e acabado. Persistente. Renitente. Presente. O Boi: “o meu” ou o “bumbá”, apresenta-se hoje no contexto cultural da cidade como elemento de reinserção do folguedo no imaginário coletivo.


Na Folia dos Bois, em sua terceira edição no carnaval/2007, vinte agremiações desfilaram seus brinquedos para o deleite e catarse popular.



É nesse contexto que se insere a posta em cena de A PAIXÃO E A SINA DE MATEUS E CATIRINA, que traz à público uma pesquisa realizada em relação as mais diversas manifestações desse folguedo, com extensão para o Norte e Nordeste, buscando alargar o conhecimento da Tropa a respeito das variantes adotadas nos diferentes terreiros, e mais incisivamente no que concerne ao auto dramático, que de fato nunca fez parte do formato arcoverdense de botar boi, rebuscando na tradição oral a identificação das diferenças e semelhanças de tempo e espaço e dando ao boi manifesto a indefinição desse mesmo tempo e espaço que a si cabe. As diferenças moldando o similar.



No tocante a carpintaria teatral, traça-se um paralelo entre o auto do bumba meu boi e a comédia del´arte, baseados na repetição de personagens típicos de cada expressão. E cada um a seu modo, na utilização das máscaras: as materiais na comédia e as maquilagens no auto. Esse paralelo exigiu o desdobramento da investigação, oportunizando aos envolvidos no processo experiências teóricas e práticas desse gênero teatral.


O brinquedo se propõe para múltiplos espaços, observando a quase inexistência de teatros (arquitetonicamente falando) em quase toda sertanidade. Assim a encenação envereda pela visita às tradições em seus mais variados aspectos, sejam pictóricos, sonoros, dramatúrgicos e, sobretudo de envolvimentos com a “assistência”.



Por fim, a despeito do peso da responsabilidade de botar boi, mais ainda um boi multi-regional, tudo deve ser leve, breve e sutil, como um sonho que pode num piscar de olhos perderem-se num suspiro de cada imaginação.


Romualdo Freitas Ator, Diretor e Autor, Ex-Presidente da Tropa do Balaco Baco.
Pernambuco. 2007.


SINOPSE

Catirina, grávida já pra mais de doze meses e com desejo de comer língua de boi, arma diversas artimanhas para convencer Mateus, por ela apaixonado, a lhe presentear com esse regalo, pondo em risco o seu próprio desenlace matrimonial. Mateus de sua parte também tenta de mil maneiras driblar as jogatinas de Catirina oferecendo-lhe toda sorte de arreliques, sendo, no entanto, sempre rejeitado até que sucumbindo as lacrimejâncias de Catirina, arranca a língua do boi patrão e oferece-lhe como prova de amor e sujeição de comprometimento, deixando a estrebuchar o famoso e alardeado novilho brasileiro, boi maravilha trazido do Maranhão pelo Coronel para presentear sua filha em seu aniversário.

Satisfeitos os desejos de Catirina, vem a inevitável descoberta do Patrão/Coronel/Amo que esbraveja e pragueja todo tipo de ameaça contra o possível agressor deixando os dois culpados, em uma mútua troca de acusações tentando livrar cada um a própria pele até que Mateus num joguete de palavras convence o Coronel a lhe dar um tempo para providenciar a cura do desfalecido animal. Fechado o acordo, Mateus e Catirina têm a deixa para dar entrada as passagens de três figuras tradicionais do brinquedo do bumba meu boi: o Padre, a Mãe Preta, e o Doutor, que cada um a seu tempo depois de várias tentativas e desistem da empreitada e deixam o boi moribundo.

Vendo extinguir-se o prazo concedido pelo Coronel, Mateus e Catirina, já cansados da longa jornada noite à dentro, dão-se por vencidos e já se considerando perdidos, para comprovar sua redobrada fama de festeiros decidem enfrentar o Coronel não mais choramingando e lamentando, mas da melhor maneira que é dançando e cantando. Armam a maior festança e entretidos nem percebem que esse sim era o melhor remédio para levantar o boi, que vindo do Maranhão, acostumado com a dança, não resiste à tentação, levanta, dança, rodopia e cai na folia varrendo a poeira do chão.

Volta então o Coronel para saber o resultado da contenda sendo recebido por Catirina que entre loas de adulação e elogios de pavulagem ao grande feito pessoal, devolve o boi renascido pra alegria do patrão que faz entrar o Padre, convocado por si para a extrema-unção dos dois, mas que dada paz reinante, celebra o tão esperado matrimônio de Mateus mais a Nega Catirina.

Volta o Mestre Carpina, que inicialmente apresentara a brincadeira e que agora convoca todos os brincantes que retornam à cena para o festejo final quando cantam e dançam a toada de despedida.

FICHA TÉCNICA

Texto e Direção Romualdo Freitas
Direção Musica Lula Moreira/Cacau Arcoverde
Figurino/Maquiagem Pedro Gilberto
Execução de Figurino Sandra Lira
Cenário Romualdo Freitas/Tropa
Execução de cenário e adereços Tropa
Programação Visual Pedro Gilberto
Digitalização Márcio Arantes
Projeto de Iluminação Saulo Uchoa
Preparação corporal Fabian Queiroz
Preparação vocal Eduardo Espinhara
Assessoria pedagógica José Manoel
Documentação e registro Rodolfo Araújo



OFICINAS

Técnicas vocais e canto Eduardo Espinhara
Danças populares Fabian Queiroz
Comédia Del´art Rudimar Constâncio



ELENCO

Ronaldo Bryan Mestre Carpina / tocador
Pedro Gilberto Mateus
Mário Arantes Catirina
William di Castilho Coronel
Everaldo Marques Mãe Preta
Claudiney Mendes Padre
Givaldo Silva Medico
Fabiana Moraes Miolo/Brincante
Thiago Alves Miolo/Brincante
Fábio Beserra Tocador/Brincante
Alex Leite Tocador/Brincante
Fabian Queiroz Brincante
Romualdo Freitas Tocador



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