VADE RETRO

A ESTÓRIA DO HOMEM QUE VENDEU A ALMA AO DIABO E QUASE PERDEU SEU AMOR

Trazer à luz a brincadeira de Mamulengo VADE – RETRO – A história do homem que vendeu a alma ao diabo e quase perdeu o seu amor, representa para Tropa do Balaco Baco um retorno às bases de sua formação enquanto grupo, uma vez que resultando de uma oficina de construção e manipulação de bonecos foi levada a publico, no ano de 2000, uma primeira versão de montagem do texto em foco, orientada por Romualdo Freitas, recém saído de três anos de pesquisa junto ao Mamulengo Só Riso, de Olinda.

O Boneco na verdade acompanha as ações do movimento teatral arcoverdense já há mais de duas décadas, em intervenções político-culturais, campanhas educativas e de divulgação, carecendo enfim de uma ação mais determinante e que evidencie o trabalho de pesquisa que vem sendo realizado.

A montagem do VADE – RETRO, faz parte de um processo maior de investigação da arte da manipulação de bonecos e formas animadas que objetiva uma trilogia que se completará com a posta em cena dos próximos espetáculos: O ESPELHO DA LUA, com técnica de manipulação direta, e o NATIVIDADE, com técnicas de vara e marionetes, completando um ciclo de formação para os integrantes da Tropa e a conseqüente criação do Núcleo de Teatro de Animação.

Ressaltasse também a necessidade urgente de capacitação de técnicos que possam incentivar a formação de novos núcleos de pesquisa da animação, mais incisivamente do Mamulengo, passível que encontra-se de extinção uma vez que não há a sucessão natural dos mestres mamulengueiros tradicionais.

A Tropa do Balaco Baco – equipe teatral de Arcoverde, evidencia mais uma vez o seu compromisso com a preservação das tradições culturais populares sobretudo da oralidade e do patrimônio imaterial.

SINOPSE

Severo, negro, pobre e apaixonado pela a donzela Felícia, filha do rico, interesseiro e preconceituoso coronel, tenta pedir a mão de sua ‘’bonequinha de milho’’ em casamento, mas é recebido à bala, porque o coronel prefere a filha freira do que casada com o picolé de asfalto (apelido dado pelo coronel a Severo). Desesperado depois de rogar para todos os santos eis que aparece em sua frente o diabo disposto a dar-lhe o que desejar em troca de sua alma. Mas como será pagar uma divida ao diabo? Será que essa divida terá fim? Qual será destino de severo o nego bom do quero-quero e que não gosta de lero-lero.

Severo, negro, pobre, rebento da esperteza com a presepada, está enamorado de Felícia, filha do Rico, avarento e preconceituoso Coronel. Apaixonado, tenta aproximação com o Coronel, mas é recebido à bala. Depois de rogar a todos os santos, acaba por invocar Belzebu, com o qual faz um desesperado pacto de riqueza e em troca acaba sendo transformado em secretário do inferno e virando diabo também. Abandonado por Felícia que só o queria como gente, decide leiloar-se, dando seqüência a cena de Raimunda, Marieta e Soledad, que disputam o amor do “marrom bombom” a peso de pancadaria e acabam sendo expulsas. Desolado, aceita a condição mefistofélica e vai às profundezas onde seduzido pela Pomba a Gira, corneia o Belzebu, que para manter a palavra, expulsa-o da fornalha, assim mesmo como o próprio se diz: rico e por cima da carne seca, tomando como garantia em substituição a alma do Coronel, mas depois de reconquistada a Felícia, é o que fica combinado. De volta, vê, ante sua riqueza, caírem os preconceitos e acentuar-se a avareza do Coronel que ridicularizado oferece a filha em casamento, findo o qual, volta Belzebu reclamando a sua alma, sugerindo o reinício de novo ciclo de conflitos.
 
MARIONETE / TÍTERE / KARAGÓS / CALUNGA / FANTOCHE / PRESEPE / JOÃO REDONDO / MOLENGA / MANÉ GOSTOSO / PUPPET / BUNRAKU / JOÃO MINHOCA...

“A marionete é velha como o mundo. Renasce das suas próprias cinzas. É então um ser novo que é preciso aprender a conhecer para amá-lo; amando para aceitar e perdoar seus defeitos (ou o que parece ser defeito ao profano). Ela é filha natural da poesia. Todas as fadas do mundo compareceram ao seu nascimento levando-lhe dons e honrarias. É imortal, embora habitando na terra e tendo sido criada para fazer os homens esquecerem suas preocupações. Diverte as crianças, encanta as pessoas grandes, toca o simples, oferece um prazer delicado ao enfastiado e ao cético. É um jogo dos deuses, posto por eles na terra para nos lembrar a realidade do seu duro ofício e da sua modéstia”.

Jaques Chesnais

FICHA TÉCNICA


Direção Musical Lula Moreira
Construção de Bonecos Romualdo / Tropa
Projeto da Tenda Romualdo Freitas
Construção da Tenda Gera
Costura Tropa
Sistema de Iluminação Romualdo/Gera
Programação Visual Pedro Gilberto

ELENCO
Romualdo Freitas Severo
Fabiana Moraes Felícia/Pomba
Everaldo Marques Coronel
Mário Arantes Belzebu
Ronaldo Brian Raimunda
Thiago Alves Marieta
Givaldo Silva Soledad
Fábio Bessera Tocador
Texto e Direção Romualdo Freitas


Fique Ligado Sobre o Mamulengo
Da corruptela da expressão “mão molenga”, referente ao fato do excessivo molejo da mão do manipulador no ato da brincadeira, surge a denominação definitiva para a arte do MAMULENGO, tradicional teatro de bonecos brasileiro, originalmente nordestino e difundido posteriormente por quase todo o país, adotando variações regionais de nomes como: Briguela e João Minhoca (MG e SP), Também João Minhoca (RJ e ES), João Redondo (RN), Carapau (CE), Mané Gostoso (BA), Babau e Benedito (em diversas regiões), conservando sempre, no entanto, suas características tradicionais de apresentações em feiras, praças e festas populares, religiosas ou profanas.

O mamulengo, tradicional forma de Teatro de Bonecos do Nordeste brasileiro, genuinamente nacional, tem sua influência ligada as missões catequistas dos monges franciscanos em Olinda, quando por volta do século XVII serviram-se das montagens, com figuras imóveis, de presépios natalinos e cenas dramáticas como o Auto da Paixão e da Natividade no grande atrativo do público para a disseminação dos preceitos católicos chegando a atrair tal número de fiéis que tinham de ser expostos ao ar livre, nos adros das igrejas.

No povo, é que esse boneco perde a sua santidade e assume a picardia, a irreverência, o chiste, a crítica; Ganha a luva e com ela a mobilidade, a liberdade. Daí, aos Bastiões, Tiridás, Joões Redondos, Beneditos e Babaus foi só a sucessão de grandes mestres populares e a invenção do imaginário tradicional das brincadeiras de mamulengo.

Hoje escasseiam-se os mestres, desaparece o brinquedo e o mamulengo perde a figura.
No lugar fica a tv... o game... o x- qualquer coisa...
Reina a mesmice.

Romualdo Freitas
Manipulador